PENSAR GLOBAL E AGIR GLOBAL
Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa
Diário Económico, 10 de Novembro de 2006
Reúne-se hoje, em Sintra, o Conselho para a Globalização, criado sob o meu patrocínio no âmbito da COTEC-Portugal. Cerca de duas dezenas de líderes de empresas mundiais, provenientes de doze países - da Europa, de África, da América do Norte e do Sul, do Médio Oriente e da Ásia -, em conjunto com outros tantos representantes de empresas portuguesas com ambição global, irão debater os desafios da globalização. Participa também na reunião o Presidente da Comissão Europeia, Dr. Durão Barroso.
Num mundo em mudança acelerada, em que as economias estão cada vez mais integradas e o conhecimento é o factor chave do sucesso, é do maior interesse reflectir sobre a forma de promover uma globalização que abra espaço à participação de todos os países, ou seja, uma globalização plural. É este o tema desta primeira reunião do Conselho para a Globalização.
Hoje, as empresas podem criar vantagens competitivas através da integração de competências, capacidades e conhecimentos de mercado dispersos pelo mundo fora. Seguindo um modelo globalmente integrado, as diversas componentes da actividade das empresas podem ser desempenhadas a partir de qualquer ponto do mundo. É o que se chama a vantagem metanacional.
Mas numa economia do conhecimento, a globalização não tem que significar uniformização e estandardização, pela imposição de um parâmetro único. O mundo está longe de ser plano e as empresas podem ganhar vantagem no mercado global, aproveitando as diferenças entre países.
A globalização deve ser plural, facilitando o trabalho em conjunto, numa lógica de interdependência e num jogo de complementaridades e de concorrência justa, por forma a que o vencedor do processo seja a humanidade como um todo.
A globalização que faz sentido significa participação e não dominação.
Portugal tem especial legitimidade para promover o debate sobre a globalização plural, porque a sua expansão universalista foi mais de adaptação do que de imposição, mais de integração do que de uniformização.
Nos dias de hoje, o desafio para as empresas é Pensar Global e Agir Global. Por outras palavras: fornecer produtos e serviços globais, concebidos por talentos globais, baseados em conhecimentos globais, para mercados globais.
A globalização significa a crescente mobilidade de bens, serviços, trabalho, ideias, tecnologia e capital à escala planetária. Apesar de não ser um fenómeno novo, a globalização intensificou-se pela conjugação de um conjunto de factores. Por um lado, a redução das barreiras que condicionavam o comércio e o investimento internacionais, as transformações económicas iniciadas pela China no final da década de 70, a dissolução do bloco de leste no fim dos anos 80, as reformas económicas realizadas na Índia democrática nos anos 90.
A estes factores acresce, por outro lado, a revolução tecnológica da informação e das comunicações, que veio reduzir vertiginosamente os custos de produzir, processar e transportar informação. O mundo passou a estar dotado de infra-estruturas de comunicação planetárias, acessíveis a qualquer cidadão, a qualquer hora, em qualquer lugar. A localização geográfica da empresa deixou de ser determinante.
O sucesso da globalização significa expandir a todos os benefícios da revolução da informação e das telecomunicações, dado o seu potencial de melhoria em sectores como a educação e a saúde, os serviços públicos, as empresas e os “media” e no acesso à informação e ao conhecimento.
Nos países emergentes, a abertura dos mercados e o investimento estrangeiro têm vindo a retirar milhões de pessoas da pobreza, abrindo janelas de esperança e criando novos horizontes de bem-estar. A globalização reduziu a pobreza, mas exige políticas que corrijam os fenómenos da marginalização e do desemprego e apostem na equidade e na inclusão, mesmo nos países mais desenvolvidos.
O grande desafio que Portugal enfrenta é o da competitividade à escala global. Importa que as empresas portuguesas estejam conscientes da envolvente da concorrência à escala mundial em que actualmente se posiciona a economia portuguesa e aproveitem decididamente as oportunidades que essa nova realidade proporciona. Estou convencido de que a necessidade de Pensar Global e Agir Global deve hoje inspirar tanto a postura estratégica das empresas portuguesas, como o quadro de referências dos nossos agentes políticos, investidores, parceiros sociais e Administração Pública. Caso contrário, arriscamo-nos a ficar para trás.
Foi nesta perspectiva que propus a criação de um Conselho para a Globalização, integrado por personalidades e líderes empresariais nacionais e estrangeiros com conhecimento e experiência da economia mundial. O objectivo é contribuir para uma melhor compreensão do fenómeno da globalização e das suas múltiplas implicações, criar na sociedade portuguesa o sentido de urgência para as mudanças necessárias ao sucesso no mundo globalizado e mobilizar energias para a construção de um patamar mais elevado de competitividade; e, ainda, favorecer o estabelecimento de laços entre líderes de empresas internacionais e de empresas portuguesas, dando, em simultâneo, maior visibilidade económica a Portugal.
O Conselho para a Globalização, constitui uma oportunidade para melhor conhecermos e compreendermos a realidade do que se passa num mundo em que a economia global está a mudar a ritmo sem precedentes, beneficiando da reflexão e experiência de líderes de organizações empresariais que actuam à escala mundial e com os quais os empresários portugueses podem estreitar ligações e estabelecer redes de contacto. É uma oportunidade a que nenhum de nós, e, por certo, o Presidente da República poderá ficar indiferente.