Abraçando o mundo no século XXI

Artigo do Presidente da República publicado no Jornal Público, em 27 de Setembro de 2007


O Conselho para a Globalização, iniciativa que lancei há um ano, tem agora uma nova reunião em Sintra. Líderes empresariais portugueses e estrangeiros vão debater os desafios actuais, reflectir sobre os riscos e as oportunidades da economia global e partilhar experiências. É este o propósito do encontro.

A recente crise dos mercados financeiros é um claro alerta: a globalização exige, por parte de todos os actores, um conhecimento cada vez mais intenso e profundo da economia global. A crescente interdependência económica e a integração, quer a nível regional quer a nível dos mercados, impõem às empresas a necessidade de ter uma perspectiva estratégica para os seus negócios e competências que as tornem mais capazes, na arena competitiva mundial, de conhecer e controlar os riscos e de tirar o melhor partido das oportunidades. Quem o não fizer ficará vulnerável. A globalização não é um desafio neutro que se possa ignorar.

É certo que a globalização, por via da progressiva abertura das economias e da integração dos mercados, tem favorecido uma melhoria da afectação global de recursos através da mobilização mais rápida e eficiente de capital, de conhecimento e de competências. E que tem gerado, claramente, maior crescimento económico. Os benefícios da globalização não são um exclusivo dos países mais ricos e de grande escala. A dimensão da economia e a localização geográfica não inibem o acesso às oportunidades da economia global.

Mas não é menos certo que a globalização gera novos riscos e pode trazer novas assimetrias económicas e sociais que seria irresponsável desprezar. Expõe as empresas a um quadro competitivo mais agressivo e mais exigente. Requer uma permanente capacidade de adaptação à evolução das condições de concorrência internacional.

A competitividade, num mundo cada vez mais integrado economicamente, depende da capacidade de tirar partido da interdependência e complementaridade das economias e das empresas. Explorar as novas oportunidades de crescimento nos mercados internacionais é, hoje em dia, para um número crescente de sectores de actividade e de empresas portuguesas, uma opção incontornável e, nalguns casos, será mesmo condição de sobrevivência.

Há três palavras-chave no desafio global: inovação, competência, flexibilidade.

A inovação permanente é uma exigência para todas as empresas. O progresso científico e as inovações tecnológicas, combinadas em novos modelos de negócio, estão em dinâmica acelerada, sem descontinuidades. Novas empresas, em particular de economias emergentes, abalam as estruturas produtivas e os padrões competitivos do passado. As empresas que estagnarem em torno de técnicas de produção, de métodos de organização e de gestão e de práticas comerciais do passado comprometerão inexoravelmente os seus níveis competitivos. Inovar é uma palavra de ordem imperativa para as empresas singrarem nos mercados globais.

Inovar e competir à escala global exige também competência. Isto é: capacidades e talentos para produzir, prestar serviços, optimizar recursos. E exige, naturalmente, o domínio sistemático dos mercados, das técnicas, dos métodos, dos modelos competitivos. Sem competência não há competitividade sustentada.

A flexibilidade é outra palavra-chave. Deve traduzir a capacidade de resposta à evolução dos mercados, dos factores competitivos, do próprio contexto concorrencial. Na era da globalização, a agilidade das respostas empresariais faz muitas vezes a diferença para o sucesso.

Os objectivos de eficiência e de crescimento económico não podem, contudo, fazer-nos perder de vista outros objectivos igualmente cruciais: a igualdade de oportunidades e a coesão social. Como tenho afirmado, o crescimento económico fundado na destruição social é inaceitável. E a igualdade de oportunidades no acesso aos extraordinários benefícios da economia global é outro imperativo que deve guiar os Estados, as regiões e as instâncias multilaterais.

A globalização não deve ser um álibi para desresponsabilizar aqueles que têm o dever de assegurar as condições que garantam não só uma concorrência leal e disciplinada, como também um elevado nível de coesão económica e social, protegendo os segmentos mais desfavorecidos e vulneráveis e promovendo um acesso generalizado à educação, às novas tecnologias e à sociedade de informação. É por isso que a qualidade das políticas públicas, a cooperação internacional e a própria regulação multilateral têm de ser aperfeiçoadas.

A integração não pode nem deve ser sinónimo de uniformização. A diversidade é um dos mais valiosos activos da economia global. O mundo reflecte um riquíssimo mosaico de diferenças, cujo valor deve ser respeitado e integrado. Mais do que trabalhar da mesma maneira, a globalização significa trabalhar em conjunto, em colaboração, em rede. De facto, muitas empresas integram hoje recursos à escala global, tirando partido das sinergias da diferença.

Este é o tema de fundo dos encontros de Sintra, mantendo o mote de onde partimos: Pensar Global, Agir Global.

A reflexão em torno de experiências protagonizadas por líderes empresariais das mais diversas geografias e culturas contribuirá, estou certo, para melhorar o nosso entendimento sobre questões candentes desta fase da globalização e sobre a melhor forma de gerir os desafios deste século.

Entendo que é uma responsabilidade do Presidente da República estimular as empresas portuguesas e os seus dirigentes para uma reflexão estratégica sobre o novo quadro competitivo internacional. Deste encontro resultarão, certamente, laços mais fortes entre empresários e gestores portugueses e internacionais. Espero que possa, igualmente, servir de inspiração a todos os participantes.

Inaugurei recentemente nos EUA uma exposição sobre Portugal e a sua reconhecida vocação universal. Foi-lhe dada a designação de Encompassing the Globe (Abraçando o Mundo). A designação é feliz e o desafio é, para nós, vital e permanente.


Aníbal Cavaco Silva

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